De vez em quando me pego analisando o meu oráculo principal, o Baralho Petit Lenormand. Olho lâmina a lâmina, como se isso me fizesse conhecê-lo no íntimo, como se eu quisesse "absorver" tudo o que cada carta possui. Para mim, ali, tudo faz sentido. Vem a mente os significados intrínsecos de cada carta, em seus desenhos... É estranho, mas eu vejo UM MUNDO em cada uma delas.
"O ser humano tem a habilidade inata de pensar em termos de símbolos, que deriva, fundamentalmente, da tendência à representação. (...) A mente humana é misteriosa, um universo em expansão e sem fronteiras dentro de nós. A memória e os pensamentos conscientes dão uma ideia de onde começa a mente, mas seus limites permanecem desconhecidos. Ademais da capacidade de evocar pensamentos, construímos nossa existência pelo armazenamento das experiências vividas - um repositório se estende para muito além da consciência. Em níveis ainda mais profundos, a mente abrange o que o psiquiatra Carl Gustav Jung chamou de 'inconsciente coletivo', uma dimensão psicológica hereditária, da mesma forma que o corpo herda suas características físicas." ¹
Creio que as correlações que fazemos vem sempre em uma escala: o significado "primevo" traz as sensações que ele evoca; depois disso, a amplitude se instala e vem a mente as coisas semelhantes nomeadas que conhecemos, que nos são próximas; ampliamos mais e começamos a unir as coisas nomeadas entre si, dando um terceiro significado ou mais...
Falando do meu oráculo preferido, o Baralho Petit Lenormand:
E não para por aí! Ter uma boa "biblioteca interna" ajuda bastante nesta abstração e na correlação entre os símbolos e os significados possíveis que surgem durante a leitura de um oráculo. Isso acrescenta uma riqueza de informação à leitura, sendo possível passar o que a carta em si quer dizer para qualquer público, repassando ao cliente da melhor forma.
Ah, sim... É preciso um certo grau de abstração, mas essa mesma abstração deve estar fundamentada no conhecimento e no entendimento. Deste modo, a análise e estudo destes símbolos e arquétipos é de grande importância para o resgate simbólico e para compreensão dos signos que surgem também nos oráculos e, consequentemente, para uma compreensão mais profunda de si mesmo. ²
* Como ampliar a visão dos símbolos
O simbolismo do Baralho Petit Lenormand é próprio e muito próximo de nós também, fazendo com que ele seja um oráculo do cotidiano. Seus simbolos são atuais até hoje, pois mostram coisas, objetos e itens presentes em nossa vida e facilmente entendíveis e transponíveis por seus leitores. O estudo das lâminas e dos símbolos do Baralho Lenormand amplificam os significados e devem sempre ter como ponto de referência o momento onde foram criados e o que significavam naquela época. Ao meu ver, não se pode fugir da matriz simbólica, tampouco se limitar a ela.
"O ato de transpor os símbolos para outras esferas, principalmente para o cotidiano, nos faz entender como um ou outro símbolo e o seu significado pode 'aparecer' no dia-a-dia, aumentando a percepção e o conhecimento empírico sobre o mesmo, ampliando visões. Isso pode ser percebido, por exemplo, ao se 'vivenciar' os arquétipos e simbologias dos oráculos ou trazê-los para um meio que você domine e/ou conheça bem. Iremos lidar com vários textos neste sentido nos próximos meses aqui no bloguinho, levando o oráculo que uso, o Baralho Petit Lenormand, a 'visitar' outros mundos." ³
* DICA: caminho 'via de mão dupla'
Experimente também correlacionar não os símbolos do oráculo que usa à algo, mas a fazer o caminho inverso. Isso vale muito ao estudar oráculos onde o simbolismo é mais restrito, como as Runas, por exemplo.
As runas são caracteres de um alfabeto hoje praticamente esquecido, que com o passar do tempo adquiriram simbolismo mágico e divinatório. Uma delas, a runa ISA (foto à esquerda) é representada com um traço vertical - desta forma, | - e dentre seus significados "fala" também da imobilidade causada pela neve, a contrição, as situações fora do seu controle que te forçam a uma parada total. É um momento de pausa, reflexão, recolhimento - inclusive de suas energias.
Por ser uma runa do gelo, você poderia enxergá-la como uma estalactite (foto a direita), que nada mais é do que água e detritos acumulados, parados, presos, congelados. Algo comum nos países germânicos de onde vem as Runas, mas que muitas pessoas não sabem exatamente o que é.
Porém, se este símbolo é desconhecido, podemos pensar em outras coisas que nos causem a mesma sensação, ou seja, procurar um simbolismo conhecido para apreendermos o que quer nos dizer esta runa. Pictoricamente, por ser um traço vertical ( | ), podemos pensar em PAREDES, BLOQUEIOS que impedem o avançar; algo que se COLOCA EM NOSSA FRENTE IMPEDINDO A VISÃO, o que causa uma maior reflexão interna, o "olhar para dentro". Podemos pensar na questão do GELO e lembrar que ele, às vezes, REFLETE, tal como um ESPELHO, que traz o "olhar para si" e a reflexão que isso causa.
1 "A Linguagem dos Símbolos", de David Fontana (Publifolha) 2 Artigo "Oraculando", publicado originalmente neste blog
3 Artigo "Ato de (re)criação!", publicado originalmente neste blog
Escrito originalmente em 25.04.13
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